O quinto capítulo da série “Raio-X dos Bairros” falará um pouco sobre o distrito de São Miguel, sobre as suas necessidades e, principalmente, sobre as expectativas dos moradores nas próximas eleições. Desde o início do projeto, recebemos um rico conteúdo da população local, que enviaram as suas reivindicações para o endereço de e-mail: projetoraioxdosbairros@gmail.com
Localizada no extremo leste da capital, a área de jurisdição da Subprefeitura São Miguel Paulista tem 24,30 km² de extensão, e aproximadamente 400 mil moradores, segundo dados de 2010 do IBGE. A região é composta pelos distritos de São Miguel Paulista, Vila Jacuí e Jardim Helena.
Se compararmos o número de habitantes destes três distritos a uma cidade do interior do estado, por exemplo, chegaremos ao número populacional de Piracicaba, sendo o 17º mais populoso de São Paulo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Jardim Helena possui 9 km quadrados de área, ante 8 km, de São Miguel e Vila Jacuí. Além disso, o JH possui 153 mil habitantes, ante 142 mil da Vila Jacuí e 92 mil de São Miguel. A renda média na Vila Jacuí, é de R$ 670 reais, no Jardim Helena é de R$ 710 e em São Miguel, chega a R$ 790 reais.
O Índice de Desenvolvimento Humano é extremamente preocupante. O Jardim Helena ocupa a posição de número 91 nos IDH entre os 96 distritos da cidade. Já Vila Jacuí ocupa a posição número 80 e São Miguel, está posicionada no número 67. Já a cidade de Piracicaba possui um IDH considerado alto, sendo o 50º maior do estado.
Estes dados traduzem um pouco a dura realidade encontrada pelos moradores, que reclamam da falta de empregos e de moradia, o aumento da violência, o trânsito caótico, além da falta de lazer e cultura.
O distrito de São Miguel possui um terminal de ônibus e também uma estação de Trem (Linha 12-SAFIRA da CPTM), que interliga o bairro até o Brás, porém não tem sido suficiente devido ao alto volume de passageiros que trafegam nos terminais.
Segundo Ariovaldo dos Santos, 54, “o trânsito caótico em vias como a Jacu Pêssego e na Rodovia Ayrton Senna, tem prejudicado em muito a região, e quem sofre são os moradores, aliás, só os moradores, porque quem é rico, só aparece aqui em ano de eleição para buscar os nossos votos”, conta.
A falta de lazer e de cultura foi outro ponto questionado pelos moradores, que veem também, a ausência de áreas verdes. “Só temos a Praça da Paz”, conta Ariovaldo, morador há 25 anos. “Além disso, temos muitos jovens ociosos, e como não há pontos de lazer e cultura, eles caem no mundo das drogas e viram assaltantes”, finaliza.
O morador Sylvio Alves Sena, 66 anos, da Vila Jacuí, luta há 39 anos pela liberação de um espaço que fica ao lado da Av. Jacu Pêssego, uma das principais vias da região. Ali existia um lixão e a população luta para que no local seja criado o Parque Primavera. “Sempre lutei para o desenvolvimento do meu bairro, e espero que esta luta não seja em vão, que o nosso parque saia do papel e vire realidade”, conta.
Uma das principais promessas do ex-prefeito Fernando Haddad para a região era a construção do CEU São Miguel, porém o espaço continua em abandono puro, e o que era para ser uma mudança de paradigma, se tornou uma triste realidade para os moradores. “Nos prometeram o CEU, porém deixaram o inferno”, conta Patrícia dos Santos, 35.
Para termos uma noção Do contraste entre São Miguel e Piracicaba, a cidade de Piracicaba ficou em primeiro lugar no item educação, em um recente estudo sobre os principais Desafios da Gestão Municipal (DGM). De acordo com o CENSO de 2016, 27.447 crianças de 0 a 5 anos foram atendidas, sendo que 17.745 foram matriculadas.
Outras duas promessas realizadas pela gestão anterior, as construções da UBS Cidade Nova São Miguel e UPA Tito Lopes ainda estão com as obras paradas, desde o fim da gestão Haddad. Para José de Alvarenga, 65, “estas obras ajudariam a melhorar o acesso e o atendimento de saúde na região, pois diversos moradores sobrecarregam as unidades de saúde da região precisam procurar outros bairros para receber uma assistência médica. A gente é enganado com promessas eleitorais, e agora estamos pagando um alto preço por isso. Espero que o povo aprenda a votar”. A região possui apenas 1 hospital e 1 ambulatório de especialidades, além de 5 AMAs e 16 Unidades Básicas de Saúde.
Segundo dados da Prefeitura de Piracicaba, existem 23 UBS na cidade. Além disso, o governo do estado realizou um investimento de R$ 34 milhões na construção do Hospital Regional de Piracicaba. O equipamento contará com 138 leitos dos quais 84 serão de internação, 20 de UTI adulto e 27 de cuidados mínimos e sete de Hospital-Dia. No local serão realizadas cerca de 20 mil consultas por dia.
O índice de violência tem crescido bastante na região. Segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública, neste primeiro semestre foram registrados 984 roubos e 746 furtos, sendo considerado um dos maiores índices da Zona Leste. Segundo a Sra. Ana Machado, 79 anos, “Precisamos zelar pelos moradores, olhar pelas crianças e ter cuidado com as casas”, finaliza.
Segundo dados do IBGE, cerca de 50 mil pessoas moram em construções irregulares, sendo a grande maioria de alvenaria, como na Comunidade de A.E. Carvalho, atrás do sacolão da Avenida Imperador, área ocupada por 650 famílias. Segundo Pereira dos Santos, 59, morador há 26 anos, “muitas promessas já foram feitas, de regularizar o terreno e a moradia para o povo, porém nada foi feito. Eles só aparecem em ano eleitoral para pedir voto, e todo o processo é conduzido por eles, nós moradores ficamos na mão dos engravatados”.
Além disso, os moradores sofrem com as enchentes no Jardim Romano, que fica localizada na várzea do Rio Tietê. “Enquanto nós, moramos ao lado do esgoto, e sentimos o cheiro da fossa, os “engravatados” e “pseudo doutores” aparecem com suas fórmulas mirabolantes para se beneficiar com a nossa desgraça. A cada campanha, uma promessa diferente, mas sempre as mesmas caras”, finaliza o indignado Jorge de Almeida, 56.
Segundo o morador Luiz Carlos da Costa, do Jardim Helena, “o Dória prometeu uma Cidade Linda, mas deixou o bairro sujo, abandonado, sem asfalto e com esgoto a céu aberto. Fomos esquecidos pelo gestor, que abandonou o seu eleitorado para concorrer ao governo do estado. Ele não foi o único, foi o último eleito, e nas administrações anteriores, também fomos esquecidos pelo poder municipal”.
A Carta de São Miguel
Diante de tantas promessas, cerca de 130 líderes comunitários, empresários e agentes públicos das mais diversas áreas da administração pública, todos moradores da Vila Jacuí, Jardim Helena e São Miguel se reuniram e criaram a “Carta de São Miguel”, um rico documento com um levantamento das principais necessidades dos bairros que formam a prefeitura regional de São Miguel. O documento foi apresentado e aprovado em uma plenária realizada no auditório da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) em novembro de 2015, onde estavam presentes cerca de 180 lideres de associações diversas, empresários, funcionários públicos e formadores de opinião dos bairros. O movimento foi liderado e coordenado por Divaldo Rosa, jornalista e diretor do Grupo Acontece de Jornais de Revistas.
A “Carta de São Miguel” foi entregue pessoalmente pelo jornalista Divaldo ao então prefeito eleito João Dória e ao vice Bruno Covas na sede do governo provisório da prefeitura no prédio da CEF da Praça da Sé. Na ocasião ambos agradeceram a entrega do documento e o Doria prometeu que levaria em conta o conteúdo daquele levantamento “produzido de forma independente de paixões política”. Até hoje a maioria das propostas elencadas na Carta de São Miguel não foram atendidas.
Agora cabe aos moradores do bairro, mudarem a sua realidade nas próximas eleições, elegendo políticos sérios que defendam verdadeiramente os interesses da região, tornando o bairro de São Miguel, um lugar melhor para viver.
Matéria originalmente publicada pelo Grupo Acontece de Jornais e Revistas. Clique aqui e veja o conteúdo.