No cenário político polarizado de Guarulhos, a vitória de Lucas Sanches (PL) na eleição para prefeito marcou uma reviravolta surpreendente. Aos 28 anos e com uma trajetória ainda emergente, Sanches conquistou 58,55% dos votos no segundo turno, derrotando o veterano Elói Pietá, 80 anos, ex-prefeito e um dos nomes mais antigos da esquerda guarulhense, com uma margem de mais de 100 mil votos. Esse resultado, no entanto, é fruto de um contexto de divisões internas tanto na direita quanto na esquerda, que Sanches soube explorar habilmente.
O Racha da Direita: Bolsonaro e Tarcísio apostam em rivais
Apesar de ser filiado ao PL, partido alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Sanches não contou com o apoio de Bolsonaro e de outras lideranças da direita no primeiro turno. Pelo contrário, o ex-presidente e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), declararam apoio ao deputado estadual Jorge Wilson, o “Xerife do Consumidor”, também apoiado pelo prefeito Guti (PSD) e outras figuras locais influentes. Com uma trajetória voltada à defesa dos direitos dos consumidores, Wilson, visto como o favorito no campo conservador, disputou os holofotes com o jovem emergente Sanches.
Mesmo sem o endosso de Bolsonaro, Sanches enfrentou Wilson com vigor e chegou a solicitar à Justiça Eleitoral a impugnação da candidatura do rival, alegando ir-
regularidades no registro de sua candidata a vice. No primeiro turno, Sanches ultrapassou Wilson e, apenas após essa vitória inicial, recebeu um apoio mais discreto de Bolsonaro e Tarcísio. “É o nosso candidato, eu tenho certeza de que vai fazer um grande mandato”, declarou Tarcísio, enquanto Bolsonaro se limitou a dizer: “O Lucas vai ser o prefeito lá. Boa sorte a ele”.
O Racha da Esquerda: PT e Elói Pietá, de alianças rompidas à desconfiança
Do outro lado do espectro, a esquerda também enfrentava um impasse. Elói Pietá, um ícone histórico do PT em Guarulhos, rompeu com o partido em 2024 após o diretório municipal escolher Alencar Santana como pré-candidato. Pietá, sem sucesso na tentativa de reverter a decisão, migrou para o Solidariedade e lançou sua candidatura, buscando retomar a liderança de uma cidade que administrou entre 2001 e 2008.
A migração de Pietá para o Solidariedade dividiu o eleitorado de esquerda e enfraqueceu a unidade do grupo em torno de sua figura. Alencar Santana, escolhido pelo PT, teve uma performance fraca no primeiro turno, com apenas 9,67% dos votos, e o apoio da legenda a Pietá no segundo turno foi tímido, revelando um clima de desconfiança e falta de entusiasmo.
O Investimento Estrategicamente Alto: Valdemar Costa Neto e a força do PL
A campanha de Lucas Sanches também foi impulsionada por um importante aliado em Brasília. Valdemar Costa Neto, presidente do PL, fez um forte investimento na campanha do jovem candidato, liberando R$ 8,5 milhões do partido. Esse montante tornou a campanha de Sanches a mais cara do ano em Guarulhos, enquanto Pietá, apesar de seu histórico, contou com um orçamento de R$ 5,6 milhões.
Com esse apoio financeiro significativo, Sanches conseguiu levar sua mensagem e propostas a um maior número de eleitores, ganhando espaço e visibilidade. No domingo, Valdemar esteve ao lado de Sanches no palco, comemorando a vitória e sendo aplaudido pelos apoiadores do prefeito eleito.
Estratégia, União e Planejamento: O Segredo por trás da vitória de Lucas Sanches
Sanches soube navegar as complexidades do cenário político e aproveitou o desgaste e a falta de união de seus adversários, consolidando uma imagem de renovação e inovação. Após o resultado, o jovem prefeito eleito prometeu que “mudaria a história de Guarulhos” e que, nos primeiros 100 dias de mandato, as mudanças já seriam perceptíveis.
Em meio a um ambiente polarizado, Lucas Sanches emerge como uma nova figura política, fruto de uma divisão entre os tradicionais blocos de direita e esquerda. Sua eleição sinaliza o surgimento de um novo ciclo em Guarulhos, e os próximos passos do prefeito eleito serão acompanhados de perto tanto pelos apoiadores quanto pelos críticos. Para o jovem político emergente, que sem padrinhos locais famosos, mas com forte apoio financeiro, conquistou uma das maiores cidades de São Paulo, agora é o momento de transformar promessas em realizações e confirmar a aposta de Valdemar Costa Neto e do PL.