O Campo de Marte, localizado na zona norte de São Paulo, é uma área historicamente disputada entre a União e o Estado de São Paulo. Recentemente, a Prefeitura de São Paulo adiou a data de abertura dos envelopes com as propostas comerciais para a concessão do Parque Municipal do Campo de Marte, que agora está marcada para o próximo dia 16 de agosto. A sessão pública de licitação, inicialmente prevista para o dia 2 de julho, foi adiada conforme decreto publicado pela prefeitura em 17 de julho.
Um Parque com Nova Configuração
O projeto do parque, prometido como um “novo Ibirapuera”, passou por modificações significativas. A proposta anterior de criação de um museu aeroespacial foi substituída por um projeto focado em uma área esportiva, incluindo espaço para o carnaval e preservação do tradicional futebol de várzea. O aeroporto do Campo de Marte, o mais antigo do estado, continuará operando normalmente, recebendo helicópteros e aviões de pequeno porte.
A área total concedida para a construção e gestão do parque é de 385.883,68 m². O investimento total previsto é de R$ 614.425.376,00, e a empresa vencedora da licitação terá um prazo de concessão de 35 anos, com uma outorga inicial de R$ 305.613,00 e uma outorga variável entre 1% a 2% da receita bruta anual à prefeitura.
Ricardo Holz, gestor público envolvido no projeto, comentou sobre o adiamento e as expectativas para o parque: “A prorrogação do prazo foi necessária para garantir que todas as propostas sejam minuciosamente avaliadas e que possamos escolher a melhor opção para a população de São Paulo. Queremos um projeto que não só valorize a história do Campo de Marte, mas também que traga benefícios reais para a comunidade, oferecendo um espaço de lazer e convivência.”
Holz também destacou a importância de preservar o caráter histórico e social do local: “O Campo de Marte é uma área com uma história rica e um significado especial para a cidade. A proposta atual busca respeitar essa herança ao mesmo tempo que promove novas formas de uso e aproveitamento do espaço, incluindo áreas esportivas e culturais.”
Detalhes do Projeto
O plano de ocupação referencial sugere a criação de um centro esportivo, ciclovia, trilhas de caminhada, quadras poliesportivas, e um centro de convivência. Além disso, será implementada uma área de apoio ao carnaval, destinada ao armazenamento de carros alegóricos. A região também enfrentará desafios técnicos, como a criação de um sistema de drenagem adequado devido à sua localização na várzea do Rio Tietê.
A vizinhança do novo Colégio Militar de São Paulo, cuja construção teve início em fevereiro de 2020, também será um elemento a ser considerado na integração urbana do parque. Com um custo de construção que já ultrapassa R$ 165 milhões, o colégio está previsto para ser concluído em 2025 e sua construção não será afetada pela nova concessão do parque.
A criação do Parque Municipal do Campo de Marte é um marco que encerra uma longa disputa entre a prefeitura de São Paulo e a União, iniciada na Revolução Constitucionalista de 1932. O acordo histórico, que incluiu a abertura mão de uma dívida de R$ 24 bilhões do município, possibilitou o retorno do espaço à posse paulista. Agora, com o novo parque, a cidade ganha não apenas um novo espaço de lazer e cultura, mas também a oportunidade de revitalizar uma área de grande importância histórica e social.
Hugo Cazuriaga, arquiteto renomado e especialista em urbanismo, compartilha suas percepções sobre o projeto: “A transformação do Campo de Marte em um parque urbano representa uma oportunidade ímpar para a cidade de São Paulo. Trata-se de um espaço com enorme potencial para se tornar um oásis verde em meio ao concreto, oferecendo aos cidadãos uma área para lazer, cultura e interação social.”
Sobre a viabilidade financeira, Hugo observa: “A criação de um parque dessa magnitude requer investimentos substanciais. As parcerias público-privadas (PPP) são uma via viável, mas a atratividade para investidores depende da clareza quanto ao retorno e à segurança jurídica do projeto. Além disso, a gestão e a manutenção contínua do parque exigem um planejamento financeiro robusto para assegurar a qualidade e a segurança do espaço ao longo do tempo.”
Hugo também faz alerta para os impactos ambientais e urbanísticos: “A transformação do Campo de Marte deve ser realizada com atenção especial à preservação das áreas verdes e à integração do parque ao tecido urbano. Isso inclui a melhoria da acessibilidade e da conectividade com outras regiões da cidade, facilitando o acesso de todos os cidadãos.”
Fernanda Almeida, arquiteta e urbanista, oferece uma perspectiva crítica sobre o potencial do Campo de Marte: “O Campo de Marte é uma oportunidade única para reimaginar o uso de uma área historicamente rica e estrategicamente localizada. A criação de um parque urbano integrador pode não apenas preservar a memória do local, mas também atender às demandas contemporâneas por espaços públicos de qualidade.”
Fernanda destaca os desafios que a falta de um projeto concreto acarreta: “A indefinição sobre o uso do Campo de Marte é uma oportunidade perdida para a região. Sem um plano claro, perpetua-se a sensação de abandono e subutilização, ao mesmo tempo em que a demanda por áreas verdes e espaços públicos só cresce. A ausência de um projeto efetivo contribui para a fragmentação do tecido urbano, dificultando a integração do Campo de Marte com seu entorno e impedindo sua valorização como um ativo urbano.”
Ela também faz um alerta para os riscos de um projeto malconduzido: “Se o desenvolvimento do Campo de Marte não considerar as necessidades locais, corremos o risco de agravar a gentrificação, deslocando moradores de baixa renda e alterando a dinâmica social da região. Arquitetonicamente, um espaço desarticulado e mal integrado com o entorno pode gerar áreas de sombra urbana, insegurança e uso ineficiente do solo.”.
Matéria originalmente publicada pelo portal São Paulo em Revista. Clique aqui e leia o conteúdo completo.
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