Não é de hoje, e sim, de outros carnavais, que a maior manifestação popular do país traz as ruas, críticas do momento político e social que o Brasil atravessa. E a cada ano, os desfiles realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro ganham cada vez mais força, seja pela sua qualidade técnica, algo indiscutível, seja pelo seu tom crítico, cada vez mais ácido e direto.
A campeã do carnaval de São Paulo, a Águia de Ouro trouxe ao Anhembi, uma homenagem ao educador Paulo Freire. Sob o enredo, “O Poder do Saber – Se Saber é poder… Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, uma clara homenagem ao educador Paulo Freire que tem sido frequentemente hostilizado pelo atual governo. A vitória da escola representou um contraponto ao papel que a educação vem atravessando atualmente.
Já a campeã do carnaval carioca, a Unidos do Viradouro levou para a avenida, uma homenagem “As Ganhadeiras de Itapuã”, apresentando a história, cultura e tradição nascida dos cantos, danças e crenças das lavadeiras do litoral da Bahia. Sob o refrão, “Ó mãe, ensaboa mãe, ensaboa, pra depois quarar”, a escola deu o seu recado na avenida homenageando à saga de nossas avós, de nossas mães e de outras Marias que contribuíram para a fortificação do povo brasileiro, como dizia o seu próprio enredo.
Mesmo não conquistando o título, a São Clemente polemizou na Marquês de Sapucaí. Com o enredo “O Conto do Vigário”, a escola trouxe como um dos seus destaques, o comediante Marcelo Adnet (foto) , que interpretou o presidente Jair Bolsonaro. A escola também trouxe em suas alegorias, o conto da grávida de Taubaté, o pastor que promete terrenos no céu, fazendo uma alusão ao atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, além de uma ala com foliões fantasiados de presidiários, em uma referência sobre o sucessivo teste de fé dos brasileiros.
Indo no mesmo embalo, a Estação Primeira de Mangueira realizou um desfile perfeito, com temas que apontaram diretamente o fervor religioso da direita, e o aumento da violência policial durante a primeira metade do mandato de Bolsonaro. Inclusive, o samba-enredo da Mangueira diz “Não tem futuro sem partilha nem Messias de arma na mão” – lembrando que o nome do meio de Bolsonaro é Messias, e ele defende abertamente a ampliação da posse de armas.