Tilápia lidera consumo de pescado entre os paulistas, mas alto custo limita frequência

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Uma pesquisa conduzida entre 2023 e 2024 pelo Instituto de Oceanografia (IO) da USP, em parceria com o Instituto de Pesca do Estado de São Paulo (Ipesp), revelou que a tilápia é o pescado mais consumido pelos paulistas. No entanto, o consumo de pescados no estado ainda está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere a ingestão de pelo menos 250 gramas por semana. Em média, os paulistas consomem pescado apenas de uma a três vezes por mês.

A pesquisa investigou o perfil do consumidor e as principais espécies consumidas, fornecendo dados que podem subsidiar políticas públicas para incentivar o acesso e a inclusão do pescado na alimentação. Entre os fatores que limitam o consumo, o alto custo da proteína se destacou como um dos principais desafios. Segundo o professor Daniel Lemos, coordenador do estudo na área de Aquicultura, a baixa ingestão de pescado acompanha o aumento de doenças não transmissíveis na população, como obesidade e hipertensão.

Tilápia, a preferência dos paulistas

A tilápia se destaca no consumo devido à sua carne branca, sabor suave e facilidade de preparo, principalmente na forma de filé. A espécie é cultivada em grande escala no Brasil, com o Paraná liderando a produção nacional (34% do total) e São Paulo ocupando a segunda posição, com 77.300 toneladas produzidas em 2022.

Além da tilápia, as espécies mais consumidas no estado são salmão, pescada, atum, sardinha, cação, bacalhau e camarão. No entanto, o estudo apontou que a frequência de consumo ainda é baixa: 35% dos entrevistados relataram ingerir pescado apenas de uma a três vezes por mês, enquanto crustáceos são consumidos majoritariamente em ocasiões especiais (46%) e moluscos raramente entram no cardápio (52%).

Fatores que influenciam o consumo

A pesquisa foi realizada com 1.947 pessoas de todas as regiões administrativas do estado de São Paulo, por meio de um questionário com 23 perguntas sobre hábitos de compra e consumo. Os resultados mostraram que:

  • 73% dos consumidores preferem comprar filés de peixe congelados em supermercados;
  • 29% consomem pescados fritos, enquanto crustáceos também são preferidos fritos (26%) e moluscos, cozidos (25%);
  • 57% dos entrevistados preparam o pescado em casa, enquanto 35% contam com outro membro da família para o preparo;
  • 55% dos consumidores avaliam a aparência, odor e textura na hora da compra, enquanto 10% priorizam o preço.

Sobre a percepção do custo, 47% consideram o pescado “caro”, e 19% o avaliam como “muito caro”. No entanto, 29% dos entrevistados disseram que pagariam mais por um pescado com certificação de qualidade, enquanto 44% afirmaram que reduziriam o consumo caso o preço aumentasse. Entre os principais motivos para a compra, 50% citaram os benefícios à saúde e 37% apontaram o sabor.

Benefícios do pescado e desafios para popularização

A nutricionista Jéssica Levy, pesquisadora de pós-doutorado do Ipesp e do IO, destaca que o pescado é uma proteína biodisponível, de fácil digestão e rica em vitaminas e minerais como zinco, selênio, fósforo, cálcio e ferro. Além disso, contém menos gordura saturada do que a carne vermelha e é uma fonte essencial de ácidos graxos. “O consumo adequado pode prevenir doenças cardiovasculares e distúrbios relacionados à saúde mental”, explica Levy.

Para ampliar o acesso ao pescado, o professor Daniel Lemos sugere a melhor utilização do peixe inteiro. Atualmente, o filé de tilápia representa apenas 30% do peixe, e as demais partes, igualmente nutritivas, ainda são pouco aproveitadas para alimentação humana. “Produtos derivados poderiam tornar o pescado mais acessível, como já ocorre com outras proteínas animais”, afirma.

Políticas públicas e perspectivas para o futuro

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Research, Society and Development e fazem parte de um projeto maior conduzido pelo Núcleo de Pesquisas Pescado para Saúde. O estudo conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e envolve a Universidade Mogi das Cruzes (UMC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), além de empresas privadas nacionais e internacionais.

A missão do núcleo é ampliar o consumo de pescado, incluindo produtos fortificados nutricionalmente, como alternativa às carnes vermelhas e processadas. Como parte desse esforço, o estudo busca não apenas identificar os hábitos de consumo, mas também comunicar a importância do pescado para a saúde pública e estimular políticas de incentivo ao acesso e à produção sustentável.

Com o Brasil se consolidando como um grande produtor de pescado, especialistas acreditam que o benefício social será significativo se houver mais acesso a esse alimento essencial para uma alimentação saudável.

Eduardo Micheletto
Eduardo Michelettohttp://www.minutomicheletto.com.br
Jornalista e Radialista, pós graduado em Comunicação Organizacional e Comunicação e Marketing, além de ter realizado diversos cursos de extensão nas áreas de Marketing Digital e Experiência do Usuário (UX). É Diretor da Micheletto Comunicação.

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